Ontem passou na Globo o filme O chamado (e eu não assisti dessa vez porque não consigo assistir a esse filme sozinha : P) e me deu vontade de falar sobre ele.
Na minha opinião, é um dos melhores filmes de terror de todos os tempos, senão o melhor. Para início de conversa, ele trata do assunto mais assustador que pode haver em filmes feitos para dar medo: espíritos. Filmes como Pânico, Jogos mortais, etc, podem até ser assustadores, bons, mas não me assustam tanto simplesmente porque o inimigo é humano. Compre uma arma e você está protegido. Contra os espíritos dos filmes, não há o que fazer. Você morre e ponto final : P
Sem dúvida, os melhores suspenses e filmes de terror são com espíritos: Sexto sentido, O iluminado, Os outros, etc. Existem exceções, mas são realmente bem poucas.
Mas claro, ter espíritos na trama não basta. Tampouco ser de origem japonesa. Um caso clássico é o filme O grito, com Sarah Michelle Gellar. Apesar de algumas cenas bastante legais (como a da criancinha aparecendo em vários andares quando um dos personagens desce de elevador), o filme não passa de uma sucessão de sustinhos gratuitos.
Mas então, se não é a temática, nem a origem, o que afinal faz o filme O chamado tão bom (e terrivelmente assustador) ? Certamente é a forma com a trama é conduzida. Notem o estilo hitchcockiano da trama: no início do filme somos apresentados a lenda da fita, uma morte horrível acontece, morte essa no qual vemos apenas o resultado final horrível, e não ela acontecendo, o que nos deixa tensos, curiosos, amendrontados, querendo saber como aquilo poder ter sido causado. Depois o filme se transforma numa investigação. E ainda por cima com contagem regressiva: a bela personagem de Naomi Watts só tem 7 dias para desvendar o mistério e achar uma solução. A medida que passa o tempo no filme (e por tabela o tempo da Naomi Watts vai se esgotando), o suspense vai aumenta, gradualmente, sem sustinhos, apenas tensão crescente.
Mas existe outra coisa que me agrada muito nesse filme e que o diferencia dos demais: as cenas surrealistas. Na fita que os personagens assistem durante o filme, aparecem diversas cenas desconexas entre si, de imagens aparentemente simples, mas estranhas, desconfortáveis como a longa escada caindo sozinha, a cadeira girando, a moça de cabelos negros se jogando num precipício, etc. As imagens dessa fita me lembram um pouco o clima do clássico filme da década de 20 Um cão andaluz de Luis Buñuel e Salvador Dali (sim, porque além de pintar relógios molengas e elefantes com pernas de saracura, ele também fazia filmes). Pra quem não conhece, é um curta metragem mudo, no qual existem algumas cenas que lembram bastante o videozinho do filme O chamado como um olho sendo cortado por uma navalha, formigas saindo pela ferida de uma mão, etc.
A clássica cena do olho e da navalha, bem no início de Um cão andaluz
Além de tudo isso, temos a assustadora Sadako (no filme original japonês, a Samara se chama Sadako e prefiro esse nome). Ela se arrastando toda torta e zenga me causa calafrios sempre que penso. Por sinal, tenho uma amiga que imita ela quase direitinho : P
As cenas das formigas
Uma pena que a continuação do filme, O chamado 2, tenha ficado tão podre, tosca e ridícula.